segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Quim e Zé, à porta do mercado

Z – Atão Quim, que contas home?
Q – Olhó Zé! Vaixe andando, uns dias melhôr, outros piôr.
Z – Oh, já se sabe home. Esta gente não dá nada a ninguém. É tudo uma mão de gatunage.
Q – Poijé! Poijéééé!! Inda no outro dia fui côa minha irmã Guilhermina ali pós lados de Verdoejo comprar uma cabrita comeram-me 15 contos. Toma lá Quim, queres do bô, atão paga e não bufes!
Z – É home é! E agôra cum isto dos ouros, nem se chega a tomar o peso ó dinheiro. Assim que vem, já foi.
Q – Isto tá como há-de ir. O meu rapaz anda estudar lá na cidade , tamem me da sumiço ó dinheiro como quem come tremoços.
Z – Anda a estudar o teu moço? Eu inda me lembra do catraio ser mais piqueno que o chão. Olha, vê lá como eles crescem.
Q – É verdade home, é. E o teu quando casa?
Z – O meu Tó Carlos? Não casa home. Aquilo é como cavalo com cio atrás das moças, não tem juízo nenhum. Inda pra mais saiu ó pai, bonito e jeitoso, não há maneira.
Q – Gaba-te cesto que vais à feira. Onde é que tu és jeitoso, mondrulho?! Olha-me pra esse barril…
Z – Ó, isso é agôra, que tou mais refeito um bocado! Porque eu no meu tempo era um pedaço dum moço. Carrejava cabaços de vinho coma se fossem cestas de cereijas.
Q – Isso há-de ter sido há munto tempo. Mas inda bem que falas porque eu tenho que comprar produto pra vinha e já não me alembrava.
Z – Onde o vais comprar? Não vás ó Jorge da Sanica!! Olha que ele é um trafulheiro.
Q – Homessa! Onde foste buscar isso agôra? Até nem tenho queixa do moço.
Z – Pois, mas tenho eu. Comprei-lhe um par de foices aqui há umas semanas e pujas no coberto junto côas inchadas. Olha, atacou-lhes a ferruge da noite pró dia, não me dão nem pra cortar sebo.
Q – Aaah, tu és munto nabo. Atão deixas as foices novas no coberto, já se sabia que a geada dava cabo delas.
Z – Se fossem das boas não dava.
Q – Tu tamem queres dado e arregaçado. Já me fazes lembrar o meu primo Inocêncio.
Z – Qual teu primo Inocêncio?
Q – Eu só tenho um, qual há-se ser!? O meu primo Inocêncio, home. O Inocêncio! Que ele é ali de São João.
Z – São João d’Arga?
Q – Sim. Que até casou cuma filha do moleiro da Gávea.
Z – Aquele que é munto parecido co Sócras?
Q – Esse! É esse!
Z – Oh, já sei. O Inocêncio. Podias ter dito logo. Conheço, home, conheço. Conheço munto bem. O meu irmão Avelino era munto amigo dele. Chegaram a ir os dois juntos à lampreia.
Q – Ai o Avelino, sim. Ó tempo que não vejo esse trauliteiro.
Z – Tá n’América, home, a trabalhar. Tem lá um restaurante a mais o cunhado. Fazem dinheiro pra eles e pra outros tantos.
Q – Ah, pois é, pois é. Diz que se ganha lá bem a vida.
M – Ó Zé, olhá lá, e se deixasses de dar à treta e me levasses estas sacas.
Z – Pronto, chegou o generau, já tá a dar ordes. Dá cá isso, home. Tu não te canses.
Q – Olá Maria, como tem passado? Vai tudo bem consigo?
M – Nunca piôr senhor Joaquim, nunca piôr.
Q – Ora, o que se quer é saudinha.
Z – E uma boa vinhaça à hora do comer! Vamos lá embora Maria, pra ver se pões o tacho ó lume. Até outro dia Quim, dá comprimentos meus à Candida.
Q – Dou, home, dou. Fuge, vai-te lá embora…


Post Scriptum - Peço aos senhores José e Joaquim que, se por acaso tiverem conhecimento deste blogue, não me apareçam em casa de caçadeira. Tenho muito mais jeito para fugir a quem me ataca de forquilha. Obrigado pela atenção.

Jack Pot

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Cartas de escárnio e mal-dizer