quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Como se chama o teu veleiro?

Não sei que pense deste veleiro que me leva. Não tem nome de santo como é costume terem as embarcações. Parece cortiço para enfrentar todo o mar em redor, frágil demais para suportar, golpe após golpe, a fúria de todas as ondas que tentam impedir-me de avançar. Além do mais, o caminho é longo, todos os mapas o dizem...
E, no entanto, trouxe-me até aqui. Por entre vales de acalmia e contornando cabos tempestuosos, aguentou ventos que pareciam soprados por titãs. As tábuas rangeram mas nunca quebraram. Aliás, sempre se mostraram tão seguras que, a não ser que Deus o queira, e Ele Próprio o faça, soltando o seu divino sopro (e fazendo-me soltar o meu), não me parece que alguma vez venham a quebrar.
Ainda assim, a ondulação incomoda-me. Creio firmemente ter sido feito para correr e saltar, não para navegar. Não tenho alma de marinheiro. Ou pelo menos o meu estomâgo não a tem, e sou eu quem paga, com enjoos, o balouçar que as empinadas cristas salgadas me dão à anca, e aos rins (não, não tenho jogo para isto).

Porém, estou bem aqui. Nesta baía o vento não assobía, parece Zéfiro enquanto se passeia. As ondas parecem não ter quem as acorde e faça levantar, dormem profundamente. Os enjoos parecem estrelas cadentes, rasgam os céus e desaparecem fugazes dos limites da memória. O mar sereno parece terra firme.
Não me lembro de ter traçado rota para este lugar, nem de ter seguido nada nem ninguém, e o rumo que aqui me trouxe não vém nas cartas. Mas não deve ter sido por acaso que cheguei a este porto seguro. O veleiro que me leva não deixa de me surpreender.
A Lua ainda vai baixa no firmamento. Vou sentar-me neste convés fustigado pelo tempo e observá-la enquanto percorre devagar o véu da noite.

Espero pelo amanhecer para atracar.


Jack Pot

P.S. - "Coração"...é o nome do meu veleiro

3 comentários:

  1. Como se chama o meu veleiro?

    Boa pergunta!

    Tive que pensar e reflectir no meu rumo até aqui chegar para conseguir encontrar uma resposta.

    Se pensar bem, a vida é cheia de ventos ciclónicos e anoiteceres perfeitos. O que define as nossas escolhas como boas ou más é a proporção entre eles... depois de um empate quase até ao fim do tempo regulamentar, posso concluir que os segundos ficam a ganhar!!

    Como me guio no meu rumo? Pego num sextante e olho as estrelas... Nelas estão guardados todos os segredos que me aguardam e os que eu aguardo....

    "Alma", é o nome do meu veleiro

    Bela Adormecida

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  2. uuaauu , aquilo que escreveu no comentário , foi nada mais nada menos do que um despertar de emoçoes .
    ler aquilo fez com que nascesse uma sensaçao tao estranha cá dentro . grande parte do que disse é verdade , e sinto que me conhece apesar de nem saber quem sou .
    aquilo que escrevo , não é propositado , sai-me .
    pois eu simplesmente escrevo aquilo "que me vai na alma" , sinto cada palavra que escrevo .
    tenho 16 anos , e consigo arranjar 32 palavras diferentes , duas para cada ano . este ano , umas das palavras terá a ver com uma nova fase da natural adolescencia , dos amores e desamores , dos risos e choros , das alegrias e desilusoes (...)
    Agradeço-lhe as sinceras palavras , e espero poder voltar a ler muitas mais , inumeras palavras suas espalhadas no meu blog .
    irei dormir melhor à noite , por saber que há pelo menos uma pessoa no mundo que me compreende , e consegue sentir o que sinto , atraves daquilo que escrevo (:

    Obrigada , e bom fim de semana .

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  3. convido-o com imenso prazer a ler o primeiro texto que escrevi sobre aquilo a que chamam de amor, com palavras tão sentidas , que sempre que o leio , dá-me uma sensaçao de bem estar , um arrepio que me percorre o corpo inteiro , um sorriso "parvo" que aparece no rosto e nao sai mais , os olhos brilham como se nao houvesse amanha , e eu sinto , eu sinto tudo , cada palavra como unica e especial :)

    http://anacatlimalmeida.blogspot.com/2010/01/bc_31.html

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Cartas de escárnio e mal-dizer